AKRASIA E ENKRATEIA: OS GREGOS JÁ SABIAM…

 em Autorrealização

ANTONIO CARLOS TELLES – Psicanalista Clínico. Autor da obra (trilogia) “SER OCEÂNICO”: diálogos em luz, sombras e autorrealização

 

O quanto eu precisaria ser senhor de mim mesmo para conquistar minha autorrealização?

É oportuno resgatar o conceito grego de akrasia – “condição de quem, apesar de saber o melhor a ser feito, faz outra coisa” (Houaiss). Por que é oportuno e atual? Por que parece que nós, seres humanos, após milênios “civilizatórios” acumulamos muito conhecimento e pouca sabedoria. Abundam conhecedores, escasseiam sábios. Sabedoria não é a arte de conhecer: é a arte de viver de acordo com nossas melhores convicções.

Porém, a sabedoria maior nem estaria na suposta ou utópica “perfeição” do comportamento coerente. Já seria sábio termos consciência da própria incoerência, e deixarmos de ignorar a própria ignorância de si.

Por isso, Sócrates valorizou mais o autoconhecimento do que o conhecimento. Para ele o problema não é apenas o comportamento akrático, a fraqueza de vontade para fazer o que se quer, mas a inconsciência da própria akrasia. A psicanalista Maria Homem, em sua reflexão sobre o “Eu contra si mesmo”, cita o psicanalista francês Jacques Lacan: “Você realmente quer o que você deseja? E responde: “Não quero, mas acabo fazendo.”

Adoramos dizer ao outro o que ele precisa fazer, não é? “Quem poderia pretender governar os outros se não se governa a si próprio?” questionou o historiador francês Michel Foucault (1926-1984), que resgata outro conceito grego: enkrateia, o oposto da akrasia. Para ele enkrateia é a “relação consigo mesmo como domínio, poder que se exerce sobre si mesmo”. Foucault interessou-se profundamente pelo conceito grego do “cuidado de si.”[1]

Para Platão enkrateia significa “viver cada dia de modo a que fosse senhor de si mesmo (…) o mais possível.” (Carta VII, 331 d)

Por que há muito mais akrasia do que enkrateia? A força oceânica do insconsciente nos domina. Relembrando Montaigne: muitas vezes, “não vamos, somos levados…!” Por quê?

 

[1] Curso ministrado por Foucault no Collègede France (1981-1982) –“A Hermenêutica do Sujeito”.

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